O uso dos Canabinoides na Medicina Veterinária

O uso dos Canabinoides na Medicina Veterinária

O texto a seguir possui teor única e exclusivamente técnico e informativo , não caracterizando qualquer tipo de preferência ou cunho ideológico.

O mundo ainda vive a polêmica de liberar o Canabidiol (extrato da maconha) para uso medicinal em humanos, mesmo com inúmeros casos comprovados cientificamente de que a substância ajuda no tratamento de doenças.

E o assunto chegou ao mundo animal. É que há tutores usando o Canabidiol em animais em alguns estados dos EUA onde o uso é liberado apenas em humanos. No Brasil o uso da substância é regulamentada pela Anvisa no tratamento humano, mas seu uso na medicina veterinária não é liberado.

A utilização da planta medicinal Cannabis e seus derivados é conhecida há anos, principalmente por seu amplo espectro em relação a obtenção de resultados no tratamento de diversas patologias. Sua composição química é bastante complexa e constituída por mais de 420 compostos químicos. Os dois mais abundantes na planta são o Tetra-hidrocanabinol (THC) e o Canabidiol (CBD).

No organismo de mamíferos como o cão , o gato e o humano existe um sistema denominado  Sistema Endocanabinoide localizado predominantemente no Sistema Nervoso Central e responsável por regular a cognição, o apetite, a atividade motora, as emoções e a memória , podendo ainda existir nos ovários, testículos e glândulas salivares. Também está presente em células do sistema imune , localizadas no baço e tonsilas, auxiliando as funções imunológicas do organismo. Os compostos químicos predominantes na Cannabis (THC e CBD) atuam no Sistema Endocanabinoide e desempenham funções terapêuticas, porém é a partir do THC que ocorrem os chamados efeitos psicoativos que conferem a utilização da planta para fins recreativos e fazem com que seu uso como medicamento seja limitado uma vez que a utilização prolongada leva a alterações motoras, cognitivas, de memória, além da dependência química . Em contraste, o CBD é o composto não psicoativo da planta e pode atuar de diversas formas no tratamento de inúmeras patologias.

Atualmente, alguns estados Americanos, além de países europeus, como Holanda e Bélgica, liberaram o uso medicinal da planta e medicamentos derivados da mesma para fins medicinais. No Brasil, o uso medicinal da Cannabis sativa é proibido . A única exceção é o uso do Canabidiol (CBD) e Tetra-hidrocanabinol (THC) em condições neurológicas específicas. A prescrição medicinal do CBD foi liberada somente em 2015 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Anteriormente, a comercialização medicinal era realizada de forma ilegal , e ainda assim, a  compra de medicamentos à base de Canabidiol requer autorização da ANVISA .

O uso medicinal de canabinoides derivados da planta Cannabis é voltado para o tratamento ou alívio de sintomas de várias enfermidades , e países como Canadá, Estados Unidos e Holanda, já possuem produtos farmacêuticos derivados da planta (fitoterápicos) e medicamentos alopáticos . Os produtos disponíveis são provenientes de plantas cultivadas em condições específicas e padronizadas, diferindo entre si por sua concentração de THC e CBD. São indicados no tratamento de diversas enfermidades humanas como inflamação e dores diversas, câncer , náuseas e vômitos secundários à quimioterapia, esclerose múltipla , perda de apetite e distúrbios alimentares, diabetes, asma, glaucoma , insônia, ansiedade, depressão, Doença de Chron, Síndrome de Tourette, Epilepsia, entre outras.

A utilização terapêutica do Canabidiol  na medicina veterinária já é realizada nos Estados Unidos , embora ainda não seja legalizada. Entretanto já se tem conhecimento de seu benefício no tratamento de diversas enfermidades em animais. Possui potencial efeito analgésico podendo ser utilizado no controle de dores e processos inflamatórios como artrites. Anticonvulsivante em pacientes cuja terapia convencional para controle de crises convulsivas é ineficaz. Por sua propriedade ansiolítica pode ser adjuvante no tratamento de transtornos comportamentais como estresse e ansiedade. Possui ação antiemética atuando no controle de náusea e vômito especialmente nos pacientes em uso de quimioterápicos. Estudos em oncologia revelaram sua capacidade antiproliferativa e anti invasiva inibindo o crescimento de tumores e a ocorrência de metástases. Pesquisas têm demonstrado possibilidades de seu uso no tratamento de pacientes diabéticos.

Importante salientar que a maconha quando ingerida ou inalada é tóxica para animais causando depressão do sistema nervoso,incoordenação, bradicardia e outros sinais como agitação, vocalização, vômito, hipotermia, coma e morte não devendo ser utilizada em hipótese alguma.

Apesar do conhecimento sobre o potencial terapêutico do CBD já estar sendo demonstrado em diversos trabalhos experimentais , pré clínicos em animais, assim como em estudos clínicos em humanos, existem alguns fatores que limitam a aplicabilidade prática do Canabidiol , como as questões legais, o estigma social sobre a maconha e o desconhecimento sobre os seus efeitos colaterais. O envolvimento de profissionais médicos veterinários nas discussões referentes ao uso de fármacos a base de CBD é fundamental para avançar nas pesquisas, assim como na possibilidade de tornar real a aplicação terapêutica destes compostos em animais.

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